As academias foram alguns dos estabelecimentos mais afetados pela crise do coronavírus, já que precisaram suspender suas atividades completamente desde março. O retorno gradual começou em julho e está ocorrendo de maneira lenta, com poucas horas de abertura por dia, capacidade de alunos limitada e cumprindo as normas de distanciamento social.

Para entender como o setor lidou com a crise e como enxergam a retomada, o Banco Safra conversou nesta terça-feira, 04, com Filippe Savoia, CEO da Blue Fit, rede com mais de 70 academias espalhadas pelo país.

 

Reações iniciais à pandemia

 

Savoia conta que estava em Salvador para a inauguração de duas novas unidades quando o governo decretou a suspensão das atividades em todas as academias do país, o que foi um grande baque.

“Não tivemos preparação, todo mundo foi atingido de maneira muito rápida”, diz.“Fomos bem conservadores, paralisamos cerca de 20 obras que estavam em andamento, colocamos todos os funcionários de férias e o principal ponto para a nossa sobrevivência na crise foi ter mantido a cobrança das mensalidades dos nossos alunos.”

Savoia explica que sua empresa montou uma força-tarefa de mais de 50 pessoas, responsável por negociar com os alunos e oferecer benefícios para aqueles que continuassem pagando, como isentá-los das anuidades e disponibilizar convites para familiares e parentes. O CEO aponta que a estratégia foi bem-sucedida e que até o momento não precisaram encerrar as atividades em nenhuma de suas academias e puderam manter quase a totalidade dos empregos.

Mesmo assim, o impacto das academias fechadas foi sentido e Savoia relata que foi difícil manter o equilíbrio do negócio, principalmente pela perda no faturamento e necessidade de ajuste nas despesas.

 

Aulas online

 

As lives e aulas online foram uma das maneiras escolhidas para manter contato com os alunos e atrair novos clientes. Desde março, a Blue Fit vem realizando atividades diárias gratuitas em suas redes sociais. “O mercado fitness estava muito atrasado em termos de digitalização e a pandemia acelerou isso. Não veio para substituir mas sim para complementar o presencial”, destaca. 

Como há uma grande correlação entre clientes que param de frequentar a academia e os cancelamentos, diz, as aulas online foram importantes para minimizar a perda no faturamento. 

Com a reabertura parcial, Savoia conta que as despesas voltaram ao patamar anterior à crise, com a necessidade de cumprimento da folha de pagamento, aluguéis e contas de luz, mas o faturamento ainda não alcançou os níveis normais.Quase todas as unidades já estão abertas e as despesas são fixas, conta. Por outro lado, Savoia também relata que o retorno tem sido positivo e os cancelamentos já estão em nível similar ao das vendas.

 

Adaptações no retorno

 

De acordo com o empresário, as adaptações foram muitas e mudaram de acordo com a cidade onde as academias estão instaladas, pois cada prefeitura definiu regras de retorno e funcionamento específicas.

“Em linhas gerais, agora é necessário fazer o agendamento pelo site antes de entrar e responder a questionários garantindo que não foi exposto ao vírus. Na porta da academia temos pontos de higienização e medição de temperatura, além de termos distribuído máscaras para os alunos e aumentarmos o distanciamento entre os aparelhos para respeitar as normas de isolamento social”, relata.

 

Reajuste nas metas e perspectivas

 

A Blue Fit começou 2020 com a expectativa de inaugurar mais 45 unidades, sendo 20 próprias e 25 franquias, porém a meta precisou ser reajustada e as obras foram paradas por um período. “Demos uma pausa, não uma interrupção. Acredito muito no projeto e inauguramos uma nova unidade em julho e vamos inaugurar duas em agosto, aos poucos estamos retomando”, explica. De acordo com o CEO, seguindo os planos do início do ano a Blue Fit finalizaria 2020 com 115 academias e, com os ajustes, deve finalizar com cerca de 100. 

Savoia acredita que 2021 deve ser um ano de forte recuperação e que durante a pandemia houve maior conscientização das pessoas sobre a importância da atividade física para a imunidade e que os exercícios devem passar a ser vistos como essenciais na prevenção de doenças. 

O empresário também aponta que a competitividade cresceu muito no meio digital, com mais ofertas de professores e personal trainers dando aulas online, mas nas unidades físicas o efeito foi oposto, já que várias academias encerraram operações durante a crise.

“O setor sofreu muito mas tem tudo para voltar com força total, devido ao fortalecimento das empresas que conseguiram ficar de pé”, explica. Confira o bate-papo completo abaixo.